Corpo E Deficiência: Por Uma Epistemologia Decolonial
Keywords:
Corpo, Deficiência, Epistemologia, Decolonial, ColonialidadeAbstract
O lugar ocupado pelo corpo na sociedade evidencia condições constituídas por arquétipos denormalidade, os quais contribuem para a invisibilização e a indiferença em relação àdeficiência. Essa produção de indiferença pode gerar compreensões imprecisas sobre ossentidos e significados atribuídos ao corpo e suas diversidades. Historicamente, a deficiênciatem sido moldada por paradigmas coloniais e medicalizantes, que reduzem a experiênciacorporal a categorias instrumentais. Este estudo, fundamentado em pesquisas no campo dasCiências da Religião e da Educação, analisa os sentidos e significados atribuídos ao corpo e àdeficiência sob uma perspectiva marginal (RIBEIRO, 2019; 2023). Parte-se do pressuposto deque a marginalização de pessoas com deficiência reflete estruturas opressivas de umasociedade colonial e capacitista (SANTOS, 2010a; 2010b), na qual narrativas hegemônicassilenciam subjetividades e reforçam exclusões. O objetivo é refletir sobre uma epistemologiaalternativa que reconheça a deficiência como expressão legítima da diversidade humana.Ancorado no materialismo histórico-dialético, no diálogo com a psicologia histórico-cultural e emcorrentes críticas da sociologia, o estudo compreende a deficiência como construção socialpermeada por relações de poder e discursos institucionais que revelam a colonialidade dosaber, sustentada em hierarquias corporais. Essa visão hegemônica não apenas desconsideraa complexidade das vivências das pessoas com deficiência, mas também reforça estruturasopressivas.Propõe-se, assim, a desconstrução dessas narrativas dominantes por meio de uma análisecrítica que questiona como os discursos institucionais perpetuam marginalizações. Aabordagem teórico-metodológica articula o materialismo histórico-dialético (MARX, 1852) com aperspectiva decolonial (MIGNOLO, 2010), permitindo analisar três eixos centrais: anormatização da deficiência como dispositivo colonial, que transforma corpos em objetos deintervenção técnica; a normatividade adultocêntrica, que constrói a deficiência como estado deincompletude, evidenciada em discursos de “cura” (FOUCAULT, 2000), e as epistemologiasdissidentes que oferecem alternativas à normatividade corporal (SANTOS, 2007). Conclui-seque a descolonização da deficiência exige: a desnaturalização crítica dos padrões corporaishegemônicos; o protagonismo epistêmico das e sobre as pessoas com deficiência na produçãode conhecimento; e a transformação estrutural das instituições sociais. Nessa perspectiva, adeficiência deixa de ser um “problema” individual para tornar-se um reflexo das limitações deum sistema que precisa ser reinventado, demandando políticas capazes de operar umatransição paradigmática ainda distante.